Muitas mulheres em tratamento para realizar o sonho de serem mães, acabaram interrompendo o processo durante a pandemia. A incerteza quanto ao tempo de duração dessa onda de Covid-19 em todo mundo e o medo das possíveis consequências clínicas causadas pelo vírus tem feito casais adiarem o sonho da maternidade. Outro ponto são as vacinas. Será que a mulher que esteja fazendo o tratamento pode tomá-las?
No dia 02 de Fevereiro, a Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), além da Red Latinoamericana de Reproducción Asistida (REDLARA), dentre outros sociedades da América Latina, emitiram uma nota contendo, além de outras pautas, o seguinte posicionamento sobre a segurança das doses das vacinas e a importância para evitar a doença: ‘Não há razão para atrasar as tentativas de gravidez ou tratamentos de reprodução assistida se a vacina não estiver disponível ou em caso de pacientes fora de grupos de risco’ E mais: ‘Não receber a vacina supera o risco de ser vacinado, previamente ou durante a gravidez’.
Portanto, deixar a reprodução assistida durante o período de isolamento social pode ser mais uma questão de disposição do próprio casal do que da pandemia.
Publicação das comunidades de reprodução assistida pelo mundo
Foi publicada em abril do ano passado, incialmente pela comunidade europeia de reprodução assistida, depois a norte-americana e hoje no Brasil, a informação que diz para que não se adie a obtenção da gravidez. Não é sabido quanto tempo durará a pandemia.
Veja, a publicação está para completar um ano e não há definição de quando cessará o isolamento social, dentre outras restrições devido à Covid-19.
Há dois parênteses que devem ser respeitados: caso a mulher esteja numa idade ideal, com 30 anos, por exemplo, é recém-casada e está numa situação boa, ela pode esperar já que existe uma incerteza pairando pelo mundo. Porém, na maioria dos casos a pessoa passa pelo tempo sensível, ou seja, aquela declinação colocada na regulamentação desses países, de que conforme a idade vai passando, esse ‘esperar’ pode resultar numa não gravidez.
Pode-se pautar ainda o psíquico, essa expectativa da espera, a mulher tentando há anos engravidar. Não tem como dizer para ela ir para casa e voltar daqui doze meses.
Quando o medo supera a vontade de engravidar
Tem gente com medo de engravidar e ter que ir regularmente a uma clínica para a continuação do tratamento. Por outro lado, a mulher que acalenta esse sonho da maternidade vem fazendo continuamente todo o protocolo. E agora?
A interrupção desse tratamento não prejudicaria se não houve o impacto do tempo nessa espera. Porém, muitas vezes, para uma paciente com baixa reserva ovariana não há como adiar. Ou então, o tempo nem é para a primeira, e sim para a segunda gravidez, há que houve um intervalo entre a concepção de um filho e outro.
Ou seja, é difícil mensurar o que tem que ser feito ou não. Mas é preciso levar em conta o que aquela família deseja. Nesse caso, ter dois filhos. Adiar nem sempre é bom.
Riscos de contaminação pelo coronavírus
A mulher tentou engravidar, teve êxito durante este período e precisa fazer o acompanhamento médico em hospitais e clínicas. Qualquer contato social que a pessoa venha a ter, por exemplo, saiu de casa para trabalhar, entrar num elevador, utilizar um transporte público ou privado, há sim o aumento das chances de se infectar.
“O que se sabe, diferentemente do H1N1, a grávida não tem o aumento das chances de contrair o vírus por estar nessa posição. A mulher que tenta o tratamento vai a uma clínica de reprodução, faz o ultrassom, passa numa farmácia para tomar o medicamento, isso é um ponto de exposição. Porém, estar grávida não aumenta a oportunidade de se infectar.” explica o especialista em reprodução assistida Dr. Alessandro Schuffner.
Outro ponto importante a ser pautado pelo médico é sobre a má formação do feto. Não há evidências sobre uma relação do coronavírus com isso. Centenas de milhares de mulheres grávidas já se contaminaram ao redor do mundo e não aumentou as chances da má formação, diferentemente do Zika Vírus.
O coronavírus pode comprometer o pulmão do feto?
Não, já que a mãe passando o oxigênio através da placenta não há como a criança ter um comprometimento pulmonar.
Outro ponto importante é sobre o anticorpo presente na criança que descende de uma mulher infectada. Ou seja, a mãe que passou pela doença, ficou bem e produziu anticorpos, naturalmente transferiu isso ao filho.
Um tema importante a ser lembrado às pacientes é com relação à vacina. As comunidades, tanto europeia quanto americana e brasileira pautam a mesma coisa: não há necessidade em esperar a vacina chegar para poder engravidar.
As descobertas vão chegando conforme o tempo passa.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda: use máscara, lave as mãos, tenha sempre por perto álcool em gel. Porém, ela não diz: ‘Não engravide’.
“Quem lida com reprodução sabe o quanto é frustrante adiar a maternidade. A mulher quer ter seu filho logo, ou uma segunda criança num prazo em que ela e o marido haviam determinado. Temos que entender esse casal”, finaliza o Dr. Alessandro Schuffner.
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