Os números de infectados pelo coronavírus em território nacional continuam crescendo exponencialmente e apontadores direcionam para a complexidade dos casos devido à nova cepa.
Somente ontem (03 de março de 2021) o Brasil bateu o recorde de 1.910 mortes e 71.704 novos casos somente nas últimas 24h, conforme dados do Consórcio de Veículos de Imprensa.
O cenário atual dos hospitais no Brasil não é dos melhores. Há lotação máxima em diversas unidades espalhadas pelo país, mesmo com o aumento de leitos.
Saúde precária não é de hoje
A saúde no Brasil sempre caminhou em passos lentos, tendo como leitos no seu limite em hospitais.
O que acontece? Um leito, quando parado, tem um custo muito alto. Sendo assim, as unidades se acostumaram a ter um cuidado muito parecido com o que acontece nas UTIs (Unidades de Terapia Intensiva). O Brasil sempre viveu nesse ambiente caótico onde há muitos doentes e poucos leitos.
Com a pandemia, só na Santa Casa de Itatiba, no interior de São Paulo, o número de leitos aumentou em 300%. Triplicou o número de UTIs e duplicou o de enfermarias. Mesmo assim a urbe já atingiu a capacidade máxima e hoje há pacientes esperando nas Unidades de Pronto Atendimento.
É em Itatiba (região metropolitana de Campinas) onde o médico otorrinolaringologista e cirurgião crânio-maxilo-facil Dr. Luiz Gabriel Signorelli atua. O profissional, que também é diretor geral da Santa Casa da cidade, está na linha de frente contra a doença desde o início da pandemia no Brasil e falou com a nossa equipe para sanar algumas dúvidas.
Leitos: muito além dos pacientes de covid-19
Não são apenas os pacientes da covid-19 que precisam desse aparato. Há uma epidemia de traumas em circulação. O que acontece é uma irresponsabilidade por parte da população, essa que poderia evitar determinadas situações, mas acabam gerando urgências, ocupando esses leitos ou até mesmo ficando sem.
O que se vê é um diferencial entre a primeira onda de covid-19 com a que assola o país agora.
“Como não sabíamos como era a doença e estávamos com um medo muito grande, a população ficou mais em casa. Isso diminuiu muito a quantidade de casos de trauma, dando um respiro para os hospitais cuidarem mais do paciente com covid-19”, explica o cirurgião crânio-maxilo-facil.
Hoje, além de haver uma complexidade maior por causa da nova cepa, a diminuição do número de traumas pelo país não ocorreu de forma ordenada. Muitos ainda dirigem embriagados, outros buscam por soluções arriscadas para eliminar problemas caseiros, como subir num telhado e etc.
O paciente que sofre um acidente, por exemplo, ocupa o espaço na enfermaria ou UTI de forma mais intensa, seja via medicamentos e monitores, ou mesmo via atuação da equipe médica, dos funcionários da farmácia e limpeza.
“Tudo tem que ser dimensionado. Ou seja, quando há o aumento de leitos, tem de haver o aumento da estrutura”, alerta o Dr. Luiz Gabriel Signorelli.
As pessoas perderam o medo da contaminação?
É natural do ser humano diminuir o sentimento de medo conforme o tempo vai passando. Lá em abril do ano passado, por exemplo, quando ninguém sabia direito o que era a covid-19, as pessoas agiam com receio.
Hoje se tornou comum visualizar nas redes sociais fotos de comemorações, festas e aglomerações diversas, dentre outras situações que apontam como se o cenário da epidemia não existisse.
Contudo, o medo desaparece até que um familiar passe pela situação do contágio, vindo às vezes a falecer. Sendo assim, a pessoa volta a se preocupar de novo com as circunstâncias.
Um paciente pode ter passado o ano inteiro de 2020 se expondo, ora por trabalho ou mesmo por outras questões imprescindíveis e não pegou a covid-19. Porém, agora se infectou e isso pode ocorrer também devido à nova variante. E além de se contaminar, a situação pode evoluir para complicações séries e a doença ser passada para outras pessoas.
“Eu tenho um colega que morreu agora em fevereiro de covid-19, mas que passou o ano passado inteiro trabalhando na linha de frente contra a doença. Ou seja, se contaminou três dias antes da vacina”, conta o médico.
Uma pergunta hoje frequente foi direcionada ao otorrinolaringologista: Na situação atual, do ponto de vista médico e com a chegada da vacina, acredita-se na redução de casos ou vamos partir para um lockdown?
“Vou ser sincero. A covid-19 ainda é uma doença nova e estamos no campo da especulação. Não sabemos tanta coisa sobre a comorbidade. Vamos descobrir isso com o tempo, quando estudos retrospectivos tratarem do assunto para saber quais foram as melhores ações e as piores. Não sabemos se o novo pico começa a cair rápido, ou se vai subir ainda mais e se manter por um período longo. Em relação às pessoas que já pegaram a doença e tem uma imunidade natural sobre ela, com doenças semelhantes sabemos que o paciente mantém essa imunidade. Há casos de reinfecção, mas são raros. Contudo, quanto mais o vírus se reproduz e maior o número de infectados, maiores as chances de o vírus ter mutações. Quando isso acontece, a imunidade pode ajudar contra o vírus ou não”, esclarece o cirurgião.
Cuidados básicos
É necessário que as pessoas atentem-se aos cuidados evitando a transmissão do vírus. Lavar as mãos, usar máscara é cuidar de si e também da família.
“Sabemos que a economia precisa girar, mas as pessoas precisam pensar nas ações, ou seja, se tais atos são realmente necessários. Ir às festas, bailes, não é essencial. Já ir uma farmácia, mercado, isso sempre será prioritário. Nesse segundo caso, dá pra usar o serviço no delivery? Sim, há como agir dessa forma. Portanto, saiba utilizar isso com sabedoria, seja na vida social e econômica. Se houver descuido, infelizmente os gestores municipais, estaduais, além da esfera federal, poderão tomar atitudes mais drásticas”, finaliza o Dr. Luiz Gabriel Signorelli.