No final do último mês de fevereiro de 2021 o Brasil completou um ano do primeiro caso de covid-19 em território nacional.
Apesar de tanto tempo decorrido, ou seja, doze meses de doença em terra brasileira, a média móvel de casos tem batido recordes. Conforme site do Ministério da Saúde, o país contabilizou ontem (01 de março) 10.587.001 casos desde o início da pandemia aqui no Brasil. Desses, 9.457.100 se recuperaram.
Contudo, comorbidades posteriores à covid-19 são comuns e isso vem direcionando a atenção não só das equipes médicas, mas principalmente de autoridades no assunto, como os infectologistas.
Em uma conversa com a jornalista Keila Lima para o Doutor TV Entrevista, o médico pneumologista Dr. João Carlos de Jesus falou das possíveis sequelas da doença.
A covid-19 e os danos pulmonares
O Sars-CoV-2, que acomete as pessoas nas formas moderadas ou graves, causa importantes danos pulmonares. São pneumonias, inflamações nas membranas dos pulmões que podem levar à sequelas significativas.
“Na pneumologia nós já estamos familiarizados em ter que cuidar de pacientes com sequelas adquiridas após uma pneumonia comum, uma gripe grave ou mesmo após uma tuberculose. Mas a covid-19 tem sido um desafio porque após o acometimento da área dos pulmões, alguns pacientes desenvolvem uma sequela que se chama fibrose pulmonar. Ela leva a danos irreparáveis limitando a capacidade pulmonar do paciente”, explica o pneumologista.
Quando ocorre o processo inflamatório, como no caso da covid-19, é como se houvesse uma batalha entre o vírus e o nosso sistema imune em meio às membranas pulmonares. Nesse cenário de guerra, acumula-se líquido, proteínas, citocinas inflamatórias que geram danos a essas membranas.
“Como conclusão, o nosso sistema imune vence o vírus. Acaba o processo infeccioso e se inicia um novo ciclo de restauração desses danos decorrentes da guerra”, acrescenta o Dr. João Carlos de Jesus.
Nesse processo de recuperação, os mecanismos biológicos vão levar a basicamente dois desfechos:
No primeiro, o pulmão se reorganiza e as membranas voltam a funcionar normalmente. Já no segundo caso, vai ocorrer um processo de cicatrização que pode ser considerado um fenômeno anômalo. Nesse segundo desfecho, ao invés de haver uma reconstrução, reorganização daqueles tecidos, esses são substituídos por colágenos. É uma cicatriz que não tem as mesmas propriedades que os tecidos pulmonares naturais. Ela é menos elástica, não é funcional.
Quanto maior a área acometida por essas cicatrizes, menor será a capacidade pulmonar da pessoa. A manifestação pode ocorrer através de uma falta de ar ou cansaço a diferentes esforços.
Comportamento pós-covid e a influência na recuperação
É importante que a pessoa cuide dos hábitos saudáveis. Após uma internação por covid-19 é esperado que o paciente obtenha uma perda significativa de massa muscular e também dificuldade em se alimentar.
Além da intubação ocorrida em alguns na internação, o tratamento com anti-inflamatórios acaba levando a uma fraqueza muscular. O sono tende a ficar desregulado, ou seja, a pessoa pode ter insônia durante a noite e hipersonolência diurna. Tudo isso gera um desequilíbrio do organismo.
Portanto, faz-se necessário o reestabelecimento adequado com alimentação correspondente, um bom sono e rotina de atividade física leve, mas que respeite os novos limites impostos pelo próprio corpo.
“Inclusive uma das complicações pós-covid é a trombose, que pode ocorrer nas pernas, deslocando-se até os pulmões e se tornando muito grave. O simples caminhar já reduz esse risco,” esclarece o pneumologista.
A gravidade de cada caso é que vai gerir essa recuperação. Um paciente intubado e que saiu fragilizado, irá precisar de um suporte que levará mais tempo de recuperação.
O passo mais objetivo é fazer um segmento clínico para uma avaliação pós-covid, identificando as possíveis sequelas e agir com um tratamento adequado.
Uma das coisas importantes é repetir a tomografia de tórax após seis semanas ao quadro da covid para reconhecer a evolução desse processo inflamatório. Sendo assim, é possível verificar se ele evolui para uma cicatrização ou não.
Hoje, por exemplo, já se tem informações mais precisas de como manejar esse paciente com medicamentos que ajudam a minimizar essa cicatrização, preservando a função pulmonar.
Novas variantes e as consequências
Por enquanto as novas variantes têm mostrado um comportamento de maior transmissibilidade. Os profissionais seguem atentos para verificar, do ponto de vista clínico, se elas apresentam sintomas e complicações diversas, já que tudo é muito recente.
Existem muitos estudos, porém, as informações ainda não são tão claras. De maneira geral, o que se vê é um predomínio de complicações pulmonares, neurológicas e cardiológicas após o quadro da doença.
Pós-covid: o que não se pode fazer de jeito algum
De uma maneira geral está proibido fumar ou estar perto de quem faz o uso do tabaco. Além de o tabagismo aumentar o risco da pessoa ter a forma grave, o cigarro diminui muito a capacidade pulmonar. O simples processo de inalar a fumaça, que é resultado da queima de um material orgânico, torna-se muito danoso aos pulmões.
“E nessa fase em que estamos de casos crescentes a todo instante, é relevante pontuar a importância do distanciamento de um metro e meio entre as pessoas, o uso da máscara e higienização das mãos. E também aguardar a oportunidade de receber a vacina, independente de qual delas seja. Aceite a vacinação! É uma excelente forma de prevenir e controlar a doença pelo mundo”, finaliza o médico.
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