O esporte tem sido uma área bastante atingida pela pandemia de Covid-10. Se pensarmos que no ano passado (2020) a Olimpíada foi cancelada e, mesmo o anúncio dos jogos no Japão para o próximo mês de maio reverberar numa data incerta, é de se espantar, até porque isso só aconteceu em guerras.
Outras atividades esportivas, como o futebol, o basquete americano, que são fontes de entretenimento, têm suas conduções repletas de protocolos. E mesmo assim não conseguem driblar de alguns atletas terem a doença.
No campo individual, diversas pessoas que têm em suas agendas diárias a prática esportiva. Esse hábito adquirido por muitos e que tem como foco o bem-estar, a saúde, além da estética, foi abalado pelo distanciamento social imposto pela pandemia. As academias tiveram que encerrar as atividades por um período, parques estão fechados e outras áreas de lazer seguem restritas ao acesso de pessoas. Contudo, a comunidade vem conseguindo se adaptar aos novos tempos.
Um estudo feito por pesquisadores das Universidades Federais do Ceará e da Paraíba, com o Centro Universitário de João Pessoa e Universidade Estadual Vale do Acaraú, tendo como base os benefícios do exercício realizado em casa durante o confinamento, aponta que adultos que se exercitaram em suas residências tiveram melhor qualidade de vida e subjetiva de sono, além da redução dos níveis de ansiedade, depressão e estresse.
Mas e quando isso não é possível, seja por falta de espaço ou mesmo pelas comorbidades adquiridas devido à infecção?
Quando a doença ataca
A Covid-19 atua como uma grande tempestade inflamatória. Há diversos riscos, desde a inflamação do miocárdio que prejudica a função cardíaca, até a dificuldade em respirar e as questões sanguíneas.
“São várias as consequências. Ainda estamos aprendendo com os efeitos tardios da covid-19. Existe uma entidade chamada Long Covid, ou Covid Tardio, em que a pessoa nem foi internada, teve a doença de forma leve, o vírus foi eliminado, porém, persiste uma fadiga crônica. É muito comum de a gente ver, mesmo em pacientes que não foram hospitalizados, é esse quadro de cansaço físico e a dificuldade de retomar aquela energia, aquele vigor que tinha antes”, explica o Dr. Fabio Peralta Mathias, especialista em Medicina Esportiva.
Obedecendo aos sinais do corpo
Retomar exercícios num momento como esse pode ser bem-vindo desde que em condições normais, e sempre após uma avaliação médica. Se a pessoa ‘pega no pesado’, o corpo sempre retornará com algum aviso. Ou seja, forçar demais é perigoso já que o cansaço fica desproporcional.
Quando o exercício é um hábito, a nossa cabeça segue de acordo com esse condicionamento. A pessoa que teve Covid-19 de forma leve pode achar que, ao encerrar o problema, voltará com a força de antes. E, de repente, tem um baque ao fazer sua corrida diária. Portanto, obedeça aos sinais que o corpo nos envia.
É importante voltar aos exercícios, porém, devagar e com orientação de um especialista.
O comprometimento cardíaco a médio e longo prazo
Se entendermos que, na ausência de doenças de uma forma geral, o exercício ajuda a prevenir as doenças cardiovasculares (e há diversos estudos científicos que mostram isso), na reabilitação cardíaca, onde o paciente faz exercícios físicos, há inclusive melhoras da sua qualidade de vida.
“O ideal é que se possa oferecer ao paciente um volume de exercícios físicos, digamos, normal. Cada um responde de um jeito, tanto em relação ao exercício quanto à doença. É preciso entender qual foi o impacto da Covid-19 no corpo para que a pessoa prossiga com as atividades físicas. Tudo tem que ser adaptado para aquele momento e durante um tempo para que os benefícios do exercício superem os riscos”, alerta o especialista em Medicina Esportiva.
Conversando com um profissional da saúde
Uma pessoa que pratica exercícios e passou pela doença, agora deseja voltar à rotina, deve procurar por um especialista. E ele nem precisa ser da medicina esportiva. Muitas vezes, só do ponto de vista clínico, muita coisa já é detectada. Porém, sempre haverá uma indicação com parcimônia.
Parcimônia é fazer os exercícios com cuidado. Alguns exames também são solicitados, como o de sangue, para notar quais foram os impactos químicos, o quanto se modificou as células sanguíneas, os elementos de coagulação que possivelmente possam trazer complicações. Um teste de esforço, um eletrocardiograma já deixa o médico mais tranquilo.
“Há casos em que a pessoa não precisou internar, mas tem um potencial de complicação do qual só poderá fazer uma atividade física sob uma supervisão médica especializada em reabilitação. Temos vivido isso em vários centros de reabilitação no Brasil, pacientes pós-covid indo para atividades físicas, monitorados por conta das complicações pontuais da doença”, alerta o Dr. Fabio Peralta Mathias.
Sequelas nas pernas
Há pessoas com uma vida saudável, que pratica frequentemente exercícios físicos, mas que pegaram Covid-19 e houve sequela na região das pernas. Inclusive algumas hoje fazem fisioterapia para voltar a firmar a perna.
“Essa repercussão neurológica está documentada e eu mesmo vi dois casos no ano passado. O que mais me chamou a atenção foi de um rapaz de vinte e oito anos que ficou numa internação prolongada e voltou com atrofia de membro inferior, demorou um tempo para voltar a caminhar. O principal impacto que a gente vê é o circulatório, mas não podemos esquecer que está tudo integrado. Um problema circulatório pode evoluir para um distúrbio neurológio. Existe sim um acometimento neural pela infecção e outras viroses que atuam assim também. O que sabemos é que isso é recuperável. Não conseguimos precisar o padrão de tempo. Cada caso evolui de um jeito, porém, vemos essas pessoas ter um prognóstico favorável”, finaliza o Dr. Fabio.
Ter cuidados simples como higienização das mãos, o uso de máscaras e o distanciamento social é imprescindível.
Vivemos um momento de muita informação, entretanto, de diversas desinformações também. O melhor é se cercar de cautelas e prudências. Enquanto não houver uma boa cobertura de vacinação, precisaremos de todos os cuidados.
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